Por que procuramos culpados e, enquanto gastamos nossas energias com isso deixamos de enxergar as verdadeiras razões do suicídio?
Hannah Baker apontou 13 culpados pelo seu suicídio e, em seguida, houve uma tendência de atribuir à série 13 Reasons Why (na qual Hannah é a personagem central) e ao perverso “jogo” Baleia Azul a culpa pelos novos casos de suicídio entre jovens. Pessoas se matam porque se veem sem saída frente a um sofrimento profundo, seja de maneira impulsiva ou previamente planejada. Questões circunstanciais, como a série ou o “jogo”, podem ser catalisadores para aqueles que estão vulneráveis e sofrendo, mas jamais a causa em si.
No mundo, há 1 suicídio a cada 40 segundos – 75% deles em países de baixa e média renda. No Brasil, ocorrem cerca de 12 mil suicídios por ano e o número entre jovens vem aumentando preocupantemente. A elevação na taxa de suicídio dos jovens brasileiros entre 15 e 19 anos foi de 30% entre 2000 e 2012, contra 10,4% na população geral. Internacionalmente, é a 2ª causa de morte entre 15 e 29 anos. Como podem ver, o problema não começou no mês passado. Inclusive, em 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria, em parceria com o Conselho Federal de Medicina, já havia publicado uma cartilha abordando a questão com enfoque na prevenção.
Não dá para ignorar o assunto, então o melhor a fazer é entendê-lo e buscar soluções sensatas. Não há um roteiro padrão que leve ao suicídio – é um processo com final trágico. Cerca de 90% daqueles que o percorrem são portadores de algum transtorno mental e questões biológicas, psicológicas e sociais estão fortemente entrelaçadas. Cada suicida tem suas próprias razões, que culminam com a perda do sentido na vida. Um dos debates a respeito da série é de se haverá aumento no número de tentativas de suicídio. É cedo para dizer, mas o CVV (Centro de Valorização da Vida), associação que promove apoio emocional e prevenção do suicídio gratuitamente, percebeu aumento de 445% no número de pessoas que buscaram ajuda nas semanas seguintes ao lançamento da série. Os meios de comunicação também têm feito sua parte e publicado os sinais de alerta para identificar jovens em risco. Louvável, mas insuficiente. Temos que trabalhar à exaustação para que os indivíduos não cheguem a esse ponto de vulnerabilidade e isso exigirá uma profunda reflexão do nosso estilo de vida atual e criação desta e das futuras gerações. Em tempo, o telefone do CVV é 141.
Dr. Vinicius Faria – Psicogeriatra