Cercado de mitos e tabus, a prevenção ao suicídio tem ganhado cada vez mais espaço de discussão entre os profissionais da saúde e na mídia. Para engrossar o coro da importância de se falar sobre o assunto, e entender melhor o que faz com que tantas pessoas atentem contra a própria vida, a Câmara Municipal de Jaboticabal recebeu o psiquiatra Dr. Vinícius Faria para a palestra “Saúde Mental e Suicídio: o que todos precisam saber”, na noite de segunda-feira (11/09).
Promovida pelo psicólogo e vereador Luís Carlos Fernandes, e pela psicóloga e musicoterapeuta Taisa Del Vecchio, a palestra faz parte de uma série de atividades que começaram dia 9/9 com a caminhada “Eu Acredito na Vida” e seguem até dia 15 de setembro em Jaboticabal. As ações estão sendo realizadas em alusão ao Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, comemorado dia 10 de setembro, com o objetivo de alertar a população a respeito da realidade do suicídio no Brasil e no mundo, e suas formas de prevenção através da campanha “Setembro Amarelo”.
A PALESTRA
Para tentar entender o que leva uma pessoa a cometer o ato extremo de tirar a própria vida, o psiquiatra traçou uma relação entre o corpo e a mente, falou sobre os sinais que são dados antes de alguém cometer o suicídio, e o que fazer caso se perceba algum indício em amigos e parentes, ou em si próprio, que possa culminar no suicídio.
De acordo com o médico, há um elo importante entre saúde mental e suicídio. Isso porque 90% das pessoas que tentam tirar a própria vida sofrem de algum transtorno mental. A depressão é o principal deles; seguido pelo transtorno afetivo bipolar, transtornos por uso de substâncias, relacionado com álcool e uso de drogas; e o transtorno de personalidade e esquizofrenia.
Dados estatísticos apresentados por Faria mostram que o Brasil é o oitavo país com maior taxa de suicídios do mundo. “É uma tentativa a cada 3 segundos. Uma morte a cada 40 segundos. E se não fizermos nada, os números estão mostrando que até 2020, o número de novos casos de suicídio vão aumentar 50%. E 2020 está ali. Esse tipo de ação [eventos para a discussão do assunto], se mostra imperativo”, acredita o psiquiatra. No Brasil, são 32 mortes por dia, e tem aumentado entre os jovens.
Mas o que leva ao suicídio? A resposta é complexa e envolve questões multifatoriais e biopsicossociais. “Não há uma única resposta. Não tem um culpado. Não tem uma causa. O suicídio é um final trágico de um processo que acontece ao longo da vida. O suicídio é a ponta do iceberg. Muita coisa aconteceu na vida dessa pessoa para se chegar ao ato”, explica Faria.
O fator genético; o ambiente (tanto físico quanto psíquico); a saúde mental e a circunstância são alguns fatores que podem levar ao comportamento suicida.
Para o psicólogo, é importante se pensar em uma rede de apoio. “Da mesma maneira que não tem um único fator que explique o suicídio, também não vai ter uma solução única para a gente evitar. É buscar montar uma rede de apoio para ajudar essa pessoa que esteja em risco”, garante o médico.
QUEM ESTÁ EM RISCO?
De acordo com o psiquiatra, aqueles que sofrem de algum transtorno mental. Os jovens também é um público que merece atenção, já que o cérebro pré-frontal (que controla as emoções, os planejamentos e os impulsos) não está totalmente formado – só termina de se formar por volta dos 20-22 anos. Os idosos acima de 65 anos, devido sua mudança social, já que o idoso tem percepção de perda de valor na sociedade, ou sofre de alguma doença crônica.
MITOS x FATOS
O psiquiatra listou quatro pensamentos que são propagados de forma errônea, até mesmo entre alguns profissionais da saúde:
1º) As pessoas que ameaçam se matar, não farão isso. Querem apenas chamar a atenção – Mito. Quem fala, pode sim cometer suicídio. Este “chamar a atenção” é uma busca por ajuda. “Em muitos casos, a pessoa tenta o suicídio não por querer morrer, mas é o jeito que encontra de sair daquela situação da qual se vê sem saída. Muitas vezes de maneira impulsiva. É um pedido de ajuda. Tem pessoas que tentam suicídio diversas vezes, até o dia que consegue”, comenta Faria.
2º) O suicídio é uma decisão individual, já que cada um tem pleno direito de exercitar seu livre arbítrio – Não é bem assim! 90% das pessoas que tentam suicídio sofrem de algum transtorno mental, e por isso, acabam tendo uma percepção de realidade distorcida em relação à sua vida, às possibilidades, à existência de uma saída para o seu problema ou para o estado que está sentindo. “Apesar de discussões filosóficas sobre o ser humano decidir sobre a própria vida, biologicamente nós fomos feitos para propagar a vida”, afirma o médico.
3º) Não devemos falar sobre suicídio, pois isso pode aumentar o risco – Mito. Por isso que o mote do “Setembro Amarelo” é “Precisamos falar sobre suicídio”. “As pessoas percebem que alguma coisa não está legal, que a pessoa não está bem, e mesmo assim não pergunta. Portanto, questione: “Você está pensando em fazer alguma coisa contra você? Você está pensando em se matar? Você não está vendo esperança na sua vida? Você está conseguindo pensar em uma solução para os seus problemas? Perguntar não vai dar ideia, pelo contrário, vai abrir um canal de comunicação para a pessoa pedir ajuda. Lógico que tem gente que se nega a falar, e depois tenta, mas grande parte, 90% dos suicídios, são evitáveis, e perguntar ajuda sim! Entre um pensamento de morte e uma tentativa de suicídio, tem muita coisa que se pode fazer, se perceber”, garante o psiquiatra.
4º) É proibido que a mídia aborde o tema suicídio – Mito. Não há proibição para a mídia noticiar sobre o suicídio, porém, é necessária uma abordagem correta, onde se preserve a pessoa, não dê detalhes de onde e qual o método, não glamourizar, e, principalmente, não apontar um culpado, como perda de um emprego ou falência. Deve-se aproveitar a notícia para instruir, como prevenir e buscar ajuda. Tem uma cartilha da Organização Mundial da Saúde (OMS) que orienta os profissionais da mídia em como divulgar o assunto.
QUAIS OS SINAIS E O QUE FAZER?
De acordo com Faria, alguns sinais são passados pelas pessoas com comportamento suicida. Por isso é importante prestar atenção:
– Verbalizar que está sem perspectiva, relatar desespero, falta de esperança, achar que está sem saída diante de uma situação > A primeira coisa é tentar mostrar para essa pessoa que você está disponível para ouvir, e tentar mostrar que sempre vai ter um caminho, uma solução. Quem está próximo pode ser um canal de comunicação ou porta para essa pessoa buscar ajuda.
– Mudanças abruptas no comportamento e na rotina da pessoa, principalmente no envolvimento com atividades perigosas > Se você se deparar com uma pessoa que você conhece bem, que sabe como ela se comporta, e vê que está agindo de uma maneira muito diferente – mais extrovertido ou mais introvertido – fique atento e converse com a pessoa.
– Melhora súbita de uma pessoa que estava muito deprimida pode significar alívio por ter decidido tirar a própria vida > É difícil de observar. Mas a melhora repentina de uma pessoa em depressão, quando não deu tempo do tratamento ou remédio fazer efeito, é importante ficar atento. Às vezes esse alívio é por decidir tirar a própria vida.
– Escrever carta de despedida, fazer desenho com imagens de morte, mensagens de despedida ou de desesperança nas redes sociais > não encarar isso como aquele mito de que quem ameaça não se mata.
– Adquirir meios para tentar o suicídio > Compra de armas ou objetos estranhos sem necessidade aparente, acumular medicamentos, visitar lugares perigosos, como topo do prédio, passear pela sacada fora do padrão, dirigir mais perigosamente.
Em casos de suspeitas e não saber como proceder, converse com um médico psiquiatra, um psicólogo de sua confiança para poder ajudar a esclarecer dúvidas. Caso se depare com uma tentativa iminente, uma pessoa que foi encontrada para cometer o suicídio, chame o serviço de urgência, pelo telefone 190 (Polícia Militar) ou 192 (SAMU). Se der, leve a pessoa para um atendimento de urgência psiquiátrica.
ONDE PROCURAR AJUDA?
– Escuta emergencial Centro de Valorização da Vida (CVV) – telefone 141 ou pelo site www.cvv.org.br (o centro oferece canais de chat, e-mail, telefone e voip 24 horas, todos os dias, para realizar o apoio emocional e prevenção do suicídio, com atendimento voluntário e gratuito para todos aqueles que queiram e precisem conversar, sob total sigilo);
– Em casos de risco de suicídio iminente – ligar 190 ou 192 para solicitar atendimento;
– Procurar um diretor/coordenador de escola, padre, pastor, assistente social, médico, enfermeiro, líder para conversar sobre o assunto;
– Entrar em contato com Planos de saúde para conhecer os serviços de psiquiatria e psicologia disponíveis;
– Procurar a rede pública de hospitais e CAPS de Jaboticabal;
– Buscar atendimento de um psiquiatra ou psicólogo.
O PALESTRANTE – Médico pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), psiquiatra pela Universidade Federal de São Paulo, e especialista em psiquiatria do idoso.
Fonte: Câmara Municipal de Jaboticabal
Dr. Vinicius Faria – Psicogeriatra